Palavras são acessórios


Vinho. Você está segurando uma taça de vinho. De novo. Você segura uma taça de vinho sempre que está se sentindo triste. Um gole, dois, três. Quantas taças você já tomou? Algumas. Coloca um vestido, seu salto preferido, usa seu batom novo e faz uma careta para o espelho. Esquece de perguntar às amigas onde elas estão. Desiste de perguntar ao rapaz. Odeia filas, mas a enfrenta mesmo assim, enquanto fuma um ou dois cigarros.

Você se levanta quando começa a tocar a música que você diz ser sua. A música da sua vida. "We used to be closer than this", repete o refrão. Há alguns conhecidos na pista de dança, com quem você finge se importar e dança e sorri, enquanto deixa as lágrimas seguirem seu rumo. A solidão tem sido sua melhor companhia.

Do outro lado, você o vê. Alguma coisa em você doi e você decide ir para a área de fumantes. E fica lá. Fumando, chorando, rindo. Tenta fingir que se importa com quem finge que se importa com você. Responde "não é nada" e agradece aos estranhos que aliviam suas consciências te perguntando o que aconteceu. Quando você percebe que ninguém vai entender a sua dor passa a não se importar com o que vão pensar ao te verem lidando com ela.

"Foi o vinho". Alguém falou, quando você vomitou na entrada da boate. Não se lembra bem o que houve desde o último trago, mas sorri, porque ele está do outro lado da rua. Você se levanta e, ao observá-lo, pensa: "Quando alguém te ama, alguém te ama. Palavras são acessórios". Ele sorri e você também.

Você decide olhar o celular. Algumas amigas tinham te ligado e você tinha postado "a vida é uma merda" no Facebook. Seus amigos riram. Outros fingiram se importar.

Você acenou para ele e foi embora, andando.

De repente, ele chega e te abraça e diz que vai ficar tudo bem. Diz que a bateria do celular tinha acabado. Diz que te ama. Diz que vocês vão se entender, mesmo "desse jeito louco". Você chora, porque você chora sempre que se sente muito triste ou muito feliz. E diz

- Obrigada por não fingir se importar.