Cinco minutos


Ele passou por ela como se não a conhecesse.

Sentada ao redor de amigos, ela ria um riso sereno, alegre. Sentia-se extremamente feliz naquele exato momento em que ele passou. Distraída, repousou o olhar em qualquer canto e, de repente, despertou de um devaneio profundo por tê-lo visto. E ele passou como se tivesse se esquecido dela e, consequentemente, de todo o tempo juntos. Das cartas, dos primeiros olhares trocados, das mãos entrelaçadas em todo fim de tarde. Simplesmente, passou.

Hipnotizada pelo despeito, engoliu o fel que descia seco pela garganta. Não tirou os olhos do rapaz, enquanto ele estava lá, pedindo "um cafezinho, por favor". Fitava-o como quem se lembrava das noites juntos, dos beijos no início da manhã. E, também, das lágrimas, dos medos e das inseguranças compartilhadas nos seis meses em que estiveram juntos. Ela o analisava, absorta, tentando decifrar de alguma maneira seu comportamento. Ajeitou o cabelo, na intenção de dizer que se lembrava dos elogios. Apertou os lábios, como se quisesse anunciar que estava ali, desfiando o passado, sozinha.

Riu um pouco. Um riso forçado, tentando esconder seu estado de pleno desgosto. Mas, ainda assim, olhava-o insistentemente. Encheu os olhos d'água, perdida em seu próprio ressentimento, desapontada com sua própria sensibilidade. E foi aí que ela se lembrou do motivo de não estarem mais juntos.

"Não deu certo", dizia aos amigos e aos conhecidos. Mas a verdade é que o motivo pelo qual não ficaram juntos era justamente este: o esquecimento. Ela começou a se esquecer. Do começo, deles, enfim... do amor. E passou, foi embora como se não o conhecesse.

Ficou pensativa, intercalando sensações. Ora irada, brava. Ora resignada, conformada. Ficou ali por cerca de cinco minutos, imaginando e refletindo. Teve a sensação de que haviam se passado horas desde que ele chegara. Sorriu novamente feliz, por, enfim, ter percebido que eles não estavam mais juntos, porque ela não o queria mais. E isso, de alguma maneira, a satisfez.

Sem perceber, seus olhos ainda estavam repousados sobre ele, que agora queimava a língua no café. Ele a olhou e sorriu. Mas Ana, novamente distraída em seus pensamentos, não notou.

E ele foi embora como se a conhecesse.