Morte e Nascimento




Depois da tempestade vem a calmaria. Dizem. Sempre dizem. Porém esquecem de explicar a parte importante. A calmaria, já que estamos em metáforas marítimas por aqui, não é uma boa fase. É péssimo. Você fica à deriva, perdido, sem rumo. É na tempestade que tudo acontece. Todas as transformações. Boas ou ruins.

Quando eu estava no meio do turbilhão, com mil coisas me remexendo de um lado para o outro, mil caminhos que podiam dar tudo ou nada, algo me freou. Foi meu corpo. Ele reagiu de todas as formas e dores possíveis. Faltou ar. Faltou espaço, faltou garganta.

Sobrou tempo. Eu não podia produzir, não podia sair. Só a cabeça trabalhava. Trabalho. E deu um nó. Tantas escolha que eu fiz que, hoje, me parecem tão bizarramente erradas. Penso no valor que dei para algumas pessoas e no afastamento que causei em outras. Penso na minha mãe, da cozinha, me dizendo que eu me envolvia demais. Que eu me entregava demais a projetos, a amizades. Na vida.

Penso na minha irmã me dizendo que eu me complico, me atraso, me atrapalho. Que não paro muito pra pensar, só vou fazendo.
Refleti. Os dias estavam normais, enferma e sã, eu continuei andando por dentro de mim. Até que BUM! Dois socos na boca do estomago. No âmago. Não sei mais onde.

Uma morte. Simbólica, mas notória. Para me dizer que tudo nessa vida acaba. Até mesmo os laços que pensamos serem tão infinitos.

Um nascimento. Carne e osso. Para me lembrar que nada é tão ruim. Nada. Sempre tem aquela luzinha. Pequena em forma de mãozinha de bebê, que injeta um pouco de ar dentro da gente.